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Desenvolvimento regenerativo e a visão sistêmica da vida

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Um dos principais paradigmas norteadores dos projetos urbanos atuais é a sustentabilidade. Pode-se dizer que vivemos a “era da sustentabilidade”, em que um projeto precisa possuir tal atributo para se encaixar nos padrões do que é considerado o bom urbanismo

De fato, aplicar práticas sustentáveis é indispensável, mas está emergindo um novo conceito que nos convida a repensar o “ser neutro” 1 trazido pelos conceitos de sustentabilidade e nos direciona para uma postura mais ativa na proposição de projetos de desenvolvimento territorial

Neste sentido, surge a abordagem do “desenvolvimento regenerativo” que é uma forma de pensar os lugares, de maneira que estes deixem de ser uma área isolada e assumem uma posição de “ativadores de potencial” da região como um todo. 

Ou seja, o desenvolvimento regenerativo consiste em uma abordagem onde a vida ocupa o centro do projeto, visto que regenerar seria a ação de se refazer, de gerar novamente a parte “danificada”, de fazer a vida voltar a fluir, assim a abordagem regenerativa consiste em uma evolução ao paradigma da sustentabilidade.

Para além dos sistemas vivos, John Lyle, em seu livro Regenerative Design for Sustainable Development (1994), expande a ideia da regeneração para o ambiente construído afirmando que uma cidade ou recorte dela, por exemplo, pode ser um sistema regenerativo, uma vez que é possível a reposição contínua, por meio de seus próprios processos funcionais, da energia e dos materiais utilizados em sua operação. A regeneração aplicada a espaços urbanos dá a ideia de que nunca está acabado, sempre falta, sempre é necessário fazer inclusões e adequações para que a dinâmica de vida siga crescendo.

A metodologia regenerativa é orientada por uma visão sistêmica da vida que vai além do pensar mecanicista, gerando também uma mudança de práticas. Em outras palavras, é uma forma de projetar mais imersiva no território e que guia o pensar para o reconhecimento dos atributos e dos desafios inerentes a um lugar, de forma que o projeto é inteiramente estruturado para potencializar características existentes. Parte-se do que já é. Washington Fajardo, renomado urbanista brasileiro que ousou regenerar ambientes como o centro do Rio de Janeiro, completou este olhar dizendo: 

“O melhor da cidade que existe, é a que já existe”

Como sequência, é fundamental reconhecer o que é positivo e fortalece o desenvolvimento local, como também enxergar nos problemas possíveis fontes de inovação. Nesse sentido, a metodologia regenerativa, entende que não existe definição de sucesso particular que não seja, ao mesmo tempo, uma definição de sucesso para o todo.

A partir dessa perspectiva mais integrativa, o olhar regenerativo sobre o lugar exige de nós uma nova mentalidade. Atualmente, a maioria das pessoas só conseguem pensar a partir de ideias, conceitos, mitos e quadros organizativos pré-concebidos. Podemos achar que estamos pensando nossos próprios pensamentos, mas como Krishnamurti 2 sabiamente disse:

“Você está pensando os pensamentos da sua cultura”.

Portanto, a estruturação de um modo de pensar que nos guie através de novos caminhos é fundamental para o trabalho regenerativo, porque nos ajuda a atuar em sistemas complexos, tais como cidades, sem fragmentá-los, expandindo nossa visão do todo. 

A metodologia regenerativa, parte do princípio de que os fenômenos vivos com que nos relacionamos — pessoas, ecossistemas, projetos, comunidades, lugares — são totalidades auto determinantes e únicas, constituídas de sistemas menores e aninhados 3 em sistemas maiores, estabelecendo entre si uma relação de interdependência e nutrição. Podemos observar esses conceitos quando pensamos em cidades, estas possuem a capacidade de evoluir na medida em que complexificam suas relações e seu potencial, para estabelecerem trocas que geram valor compartilhado entre os sistemas envolvidos.

Logo, projetos regenerativos requerem a habilidade em identificar e investigar sistemas a partir do seu todo, pois como afirma Carol Sanford 4:

“Começar de partes em vez de sistemas inteiros leva a resultados parciais ou insatisfatórios”

Na prática, a abordagem regenerativa se apoia em quadros conceituais que ampliam a compreensão do que estamos buscando conhecer porque dão forma às informações e desaceleram o pensamento, possibilitando vê-las com algum distanciamento em relação às nossas crenças. 

Para exemplificar, a seguir apresentamos o quadro do aninhamento do projeto, no qual o todo próximo e o todo maior estão representados. O primeiro, respectivamente, é o sistema integral onde o projeto está inserido e possui uma relação de influência mútua (indicado pelas setas), já o segundo, não possui uma relação direta com o nosso projeto, mas uma relação intermediada pelo todo próximo que é a escala de atuação apropriada.

Fonte: Instituto de Desenvolvimento Regenerativo, acessado em 2023

Nós da Biossplena, como empresa pioneira em desenvolvimento regenerativo aplicado às cidades, temos como missão, promover a ressignificação e a valorização de lugares, oportunizando qualidade de vida para as pessoas e gerando comunidades. Ao desenvolver nossos projetos, temos sempre em mente os conceitos do desenvolvimento regenerativo, estes são a base para a nossa metodologia única e sensível a cada contexto. 

Para exemplificar, no Plano de Intervenções Territoriais para o Destino Galópolis, em Caxias do Sul/RS, o objetivo foi consolidar um novo e longo ciclo de prosperidade para o bairro e seus moradores, por meio do turismo cultural e gastronômico. Utilizamos o quadro conceitual para identificar o todo próximo e o todo maior e assim definir as diretrizes de projeto que potencializaram a região como um todo. Foi possível pensar de forma mais apropriada como aquele bairro, repleto de arquitetura, história e cultura poderia se regenerar para ser um destino turístico sem deixar de ser um bom local de moradia e atividades urbanas cotidianas.

Além disso, os quadros conceituais são usados na Biossplena para projetar uma nova atividade, compreender uma atividade em andamento ou avaliar uma atividade concluída, a fim de “achar o papel” de um lugar, a partir de necessidades e oportunidades que coexistem no sistema maior. 

Como resultado, estabelecemos uma relação mutuamente benéfica, ou sinergicamente positiva, capaz de gerar valor e conduzir o sistema a níveis mais altos de diversidade, estabilidade e salutogênese.

  1. Ser neutro na sustentabilidade está relacionado a manter o que está posto, adotando uma abordagem passiva com práticas que já estão em vigor, mesmo sabendo que não são muito eficazes.[]
  2.  Jiddu Krishnamurti foi um filósofo, escritor, orador e educador indiano. Sua obra foca em temas como revolução psicológica, meditação, liberdade, relações humanas, a natureza da mente, a origem do pensamento e a realização de mudanças positivas na sociedade global.[]
  3. Conceito da regeneração no qual se compreende que: pessoas, ecossistemas, projetos, comunidades, lugares, estão organizados em diferentes escalas contidas dentro de outros elementos, de maneira hierárquica ou estrutural.[]
  4. Carol Sanford é uma jornalista, autora e  fundadora da Comunidade de Desenvolvimento de Negócios Regenerativos.[]

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