O retrofit é um processo de transformação e atualização de estruturas existentes para atender às demandas contemporâneas. Em vez de demolir espaços antigos, o retrofit preserva sua essência, ao mesmo tempo em que os torna mais funcionais, eficientes e sustentáveis. Essa abordagem vem de encontro às mudanças sociais e preocupações ambientais, ao passo que permite que as cidades aproveitem os recursos já empregados em uma obra.
O conceito de retrofit é geralmente associado a intervenções ao nível de edifício, mas, recentemente, o tema tem ganhado destaque nas discussões urbanísticas contemporâneas. Isso acontece porque o retrofit na escala urbana permite a qualificação das cidades sem a necessidade de demolição e reconstrução massiva, preservando sua memória e o meio ambiente.
Como usar o retrofit na revitalização das cidades?
No contexto de cidades e espaços públicos, o poder público pode usar o retrofit na revitalização das cidades através da renovação de praças, parques, ruas, calçadas, complexos históricos, entre outras inúmeras possibilidades. Ao se concentrar em melhorar a usabilidade, aparência e eficiência das estruturas existentes, o retrofit devolve o potencial turístico e de lazer a esses espaços.
As vantagens do retrofit em edifícios são amplamente conhecidas. Em termos de sustentabilidade, o retrofit reduz o desperdício de recursos, já que aproveita estruturas já construídas e o carbono agregado nelas, evitando novas emissões. Além disso, a modernização sempre deve ter foco na eficiência energética, visando reduzir todos os impactos relacionados à cadeia de produção de energia.
É possível argumentar ainda sobre a economia de terra que o retrofit proporciona, já que foca em aproveitar melhor espaços urbanos ao invés de expandi-los.
Quando trabalhamos em escala urbana, é preciso sair da caixa para pensar em estratégias de retrofit inovadoras, que vão além dos edifícios. Um dos setores que mais traz impactos ambientais para a cidade é a mobilidade urbana.
O retrofit de parques e praças pode ser usado como uma estratégia para melhorar a cidade para pedestres e ciclistas, evitando, assim, o uso de carros. Pensando nisso, é importante que esses equipamentos se desenhem para melhorar a experiência desse público. Algumas estratégias são a implementação de mobiliário urbano de permanência e um bom projeto de vegetação para melhorar o microclima.
Especialmente no passado, mas ainda hoje, as áreas verdes eram desenhadas com a presença de muros, cercas ou corpos d’água muito grandes. Esses elementos formam barreiras que aumentam as distâncias para os meios ativos e pioram a conectividade como um todo. Nesses casos, projetos de retrofit podem ter um papel estratégico na retirada ou reformulação dessas barreiras, melhorando a interface espaço-cidade e promovendo uma mobilidade mais sustentável.
Porque o retrofit pode ser melhor que a criação de novos espaços
Em regiões centrais, o retrofit pode ser melhor que a criação de novos espaços por ser uma potente ferramenta de revitalização. Nessas áreas, deve-se focar em trazer de volta a vitalidade para os espaços, e, para isso, é preciso atrair pessoas melhorando a experiência delas.
Alguns exemplos de ações são a humanização dos espaços, redução dos estacionamentos, segurança viária para meios ativos, fachadas ativas, aumento da arborização para evitar a formação de ilhas de calor, entre outras.
Economicamente, os projetos de retrofit também compensam. A revitalização de espaços públicos tende a ser mais econômica do que a demolição e reconstrução, ou mesmo a construção em áreas novas. Além disso, a regeneração que o retrofit traz para áreas degradadas pode aumentar o valor das propriedades e atrair investimentos para a região.
Um retrofit bem feito também tem como consequência de sua metodologia a preservação do patrimônio. A revitalização permite que as cidades preservem sua história e cultura, mantendo estruturas e características arquitetônicas. Essa é uma capacidade de projeto valiosa em um contexto de projetos e cidades cada vez mais genéricas, visto que garante experiências únicas.
Transformando um problema urbano em um ativo turístico: o caso do bairro Gamcheon (Coreia do Sul)
Um exemplo de case de sucesso do retrofit em escala urbana é o bairro de Gamcheon na cidade de Busan, Coreia do Sul. Antes da revitalização, Gamcheon era uma favela empobrecida e negligenciada, conhecida por suas condições de vida precárias e falta de infraestrutura adequada. As casas eram construídas aleatoriamente nas encostas das colinas, muitas vezes sem saneamento básico e serviços públicos adequados. A área era vista como um problema social e de saúde pública.
O projeto de retrofit começou com a pintura de todas as casas de Gamcheon em cores vivas e a instalação de arte de rua em toda a área. Foram estabelecidos também espaços culturais, incluindo galerias de arte, estúdios de artistas e espaços de apresentação. Várias atividades culturais e festivais foram pensados para ocupar e dar vida a esses espaços. O bairro foi dividido em zonas temáticas, cada uma com sua própria história e atrações. Um roteiro turístico bem-planejado foi pensado para guiar os visitantes pelas ruas estreitas, para proporcionar uma experiência envolvente.
O resultado das intervenções foi a transformação de uma área degradada em um bairro colorido e culturalmente vibrante. Hoje, Gamcheon atrai um grande número de turistas e visitantes locais, injetando vitalidade e dinamicidade econômica na área. A atenção atraída para o local oportunizou que os moradores abrissem pequenas lojas, cafeterias e estúdios de arte, gerando renda e oportunidades de emprego. A comunidade local fez parte de todo o processo de revitalização, o que harmonizou as intervenções e fomentou um forte sentimento de pertencimento.
O caso de Gamcheon ilustra o grande poder regenerativo do retrofit. Mais do que isso, o bairro mostra que esta ferramenta não deve se limitar apenas à infraestrutura física, mas também demanda revitalização cultural e atenção ao social.
Os benefícios e desafios do retrofit
É fato que o retrofit pode contribuir para criar cidades mais habitáveis através da qualificação dos espaços públicos, tornando-os mais atraentes, convidativos e funcionais. Isso porque esses são atributos regenerativos ao passo que têm potencial para promover interação social, fortalecimento de comunidades, sensação de pertencimento, vitalidade urbana e qualidade de vida.
Apesar do potencial, o retrofit é uma metodologia complexa e pode sofrer com dificuldades de implementação. Considerando que o retrofit pode ser caro, encontrar fontes de financiamento às vezes é um desafio, especialmente em áreas economicamente desfavorecidas. Além disso, uma renovação de espaços públicos eficiente requer o envolvimento e colaboração de múltiplos interessados.
Deve-se incluir no processo todos os atores que perpassam o local, como governo, empresas, comunidades, associações civis públicas, academia, etc. Isso porque um projeto só atinge todo seu potencial quando é consensual entre todas as partes, o que traz um grande desafio referente à gestão de pessoas e interesses.
Considerando todas essas complexidades, contratar uma consultoria especializada é crucial para o sucesso de projetos de retrofit. A atuação de uma empresa experiente garante a qualidade do projeto e facilita todo processo, desde a obtenção de financiamento até a coordenação das diferentes partes interessadas. Esse auxílio técnico é fundamental no desenvolvimento de cada passo do projeto, aumentando as chances de que ele seja eficiente e bem-sucedido.
Embora existam desafios a serem superados, a combinação de uma visão integrada à metodologia regenerativa contribui para que o retrofit atinja todo seu potencial. A Biossplena se encanta por projetos desse tipo por acreditar que o seu impacto pode ir muito além da área de intervenção.
Se interessou pelo tema? Confira aqui como a Biossplena pode aplicar o retrofit na escala urbana, permitindo a qualificação das cidades sem a necessidade de demolição e reconstrução massiva, preservando sua memória e o meio ambiente.